sábado, 24 de abril de 2010

DICIONÁRIO DE CINEMA

Por Beto Magno

Vêm listados abaixo alguns termos técnicos freqüentemente usados em cinema. Como esta listagem não é completa, contamos com a sua colaboração, sugerindo a inclusão de novos termos, ou nos consultando sobre o significado de algum termo que você desconheça.


A
ABNT: sigla da Associação Brasileira de Normas Técnicas, responsável pelas normas e padrões técnicos que devem ser observados em diversos tipos de produtos e atividades, incluindo a projeção cinematográfica.


AC: abreviação de Corrente Alternada, a partir do termo equivalente em inglês. É o tipo de corrente normalmente recebida das companhias de eletricidade.

acústica: parte da ciência que trata dos fenômenos associados ao som.

ambiente, canal: canal da trilha sonora do filme utilizada para reproduzir efeitos que transmitam o "ambiente" sonoro da cena mostrada na tela.

Ampère: unidade utilizada para expressar a magnitude de um fluxo elétrico.
amplificador: equipamento eletrônico destinado a amplificar a intensidade dos sinais de áudio e fornecer a potência suficiente para fazer funcionar os monitores de áudio;
ângulo de projeção: ângulo formado entre o eixo ótico de projeção e um reta ou plano de referência.


B
bandor: conjunto de painéis móveis fixados ao refletor para controle das dimensões do feixe luminoso.

base: camada da película cinematográfica utilizada como suporte da emulsão da película. Também chamada "suporte".
batoque: cilindro de plástico no qual se enrola a película cinematográfica de 35 mm, para armazenagem e transporte.

bitola: medida da largura da película cinematográfica, de uma extremidade à outra.

bobina: também chamada "carretel", é o suporte no qual é enrolado o filme para projeção, transporte e armazenagem.
boom: haste na qual é suspenso o microfone, utilizada para seguir os movimentos dos atores.
brute: refletor com lâmpada a arco de alta potência equipado com lente Fresnel.

C
cabeça à fricção: cabeça de tripé com mecanismo de fricção regulável, usada para se obter movimentos suaves de câmera, no sentido vertical ou no sentido horizontal.

cabeça giroscópica: cabeça de tripé de câmera comportando um mecanismo giroscópico interno que tem por objetivo assegurar a uniformidade do movimento da câmera.

cabeça magnética: componente do projetor utilizado para leitura da trilha sonora magnética dos filmes.

câmera aérea: câmera de cinema projetada para realização de efeitos óticos (trucagens) quando uma imagem aérea é refotografada.

candela: unidade internacional de medida de luminância. Seu símbolo é "cd".

carretel (ou bobina): carretel plástico ou metálico com flanges protetoras usadas para se enrolar o filme.
carvão: eletrodos de grafite ou outras formas de carbono, utilizados nas lanternas antigas, chamadas "de carvão", como fonte de luz da projeção.

change-over: termo em inglês para designar a inversão, ou troca, entre projetores durante a projeção de um filme.

chapéu-alto (hi-hat): suporte especial de câmera que permite posicioná-la a poucos centímetros do chão.
chefe eletricista: chefe da equipe de elétrica do set de filmagem.

CinemaScope: também chamado "Scope", é o mais popular dos formatos chamados "panorâmicos" em 35 mm. Utiliza uma lente "anamórfica, na filmagem e na projeção, com formato igual a 1:2,35.

cintilamento (ou flicker): variações perceptíveis na intensidade luminosa da imagem projetada na tela. O mesmo que "flicker".

claquete: dispositivo que consiste em dois pedaços de madeira unidos num extremo por uma dobradiça e pintado com listras brancas e pretas alternadas. É mantido à frente da câmera e do microfone e estalado quando o equipamento começa a ser utilizado. O estalo e a imagem das posições relativas das duas madeiras identificam a sincronização correta do som e imagem.
coladeira: equipamento utilizado para emendar as extremidades da película cinematográfica.
contra-regra: pessoa encarregada dos acessórios ou objetos necessários à ação do filme.
contra-grifa: pino, ou pinos, que se encaixam nas perfurações do filme para mantê-lo imóvel durante o tempo de exposição.

cópia "0" (cópia "zero"): cópia destinada à verificação e à aprovação dos serviços de laboratório.
cópia de trabalho: cópia positiva contendo os planos do filme em finalização, utilizada pelo montador para realizar seu trabalho.
cópia: a cópia de um filme, produzida a partir de um negativo ou de um filme reversível.
copiadora com janela molhada: copiadora na qual o filme é recoberto ou imerso em um líquido especial durante a copiagem, a fim de reduzir a um mínimo os arranhões do negativo sobre a cópia.

corta-foco: obturador secundário da lanterna de projeção que interrompe o feixe luminoso quando o filme não estiver em movimento, para evitar que ele se queime.

cross-over: equipamento eletrônico utilizado para separar o sinal sonoro em diferentes faixas de freqüência.

cruz de malta: componente do projetor que produz o movimento intermitente de "avança-e-pára" da película cinematográfica durante a projeção.

D
dB: símbolo de decibel.
dc: abreviação de corrente contínua, do termo em inglês, designando um tipo de corrente elétrica que flui em um só sentido, como o necessário para funcionamento das lanternas a xenon ou "carvão".
debitador: tambor dentado utilizado no projetor para tracionar a película cinematográfica durante a projeção.

decibel: unidade utilizada para expressar o nível de pressão sonora, cujo símbolo é "dB".

densidade: utilizado em fotografia para expressar a transmitância ou reflectância, da película

fotográfica. Uma película que transmita metade da luz incidente, por exemplo, tem uma transmitância igual a 0,50, ou 50%, e uma densidade igual a 0,30.

densitômetro: instrumento utilizado para medir a densidade de uma imagem fotográfica.

dicróico: tipo de revestimento aplicado em espelhos ou lentes que filtra os raios infravermelhos, que transmitem o calor, sem afetar os outros comprimentos de onda do espectro luminoso.
O espelho dicróico, por exemplo, possibilita concentrar no fotograma uma maior quantidade de luz, com menor quantidade de calor.

distância de projeção: distância entre a objetiva do projetor e a tela de projeção.

Dolby: marca do fabricante que desenvolveu e fabrica um sistema para redução de ruídos da trilha sonora dos filmes e para registro e reprodução de trilhas com som estereofônico, nos procedimentos analógico ou digital.

DTS: sistema sonoro digital no qual a informação sonora é registrada em um CD- ROM, sincronizado às imagens através de um time code impresso fotograficamente na película cinematográfica, entre a trilha sonora ótica analógica convencional e o fotograma.

dublagem: gravação de diálogos sincronizados com a cena, depois que esta foi filmada.

E
eixo ótico (da projeção): reta imaginária que passa pelo centro geométrico da lente - ou lentes - de projeção, lâmpada e espelho de projeção.
emenda: procedimento utilizado para unir extremidades da película cinematográfica.
emulsão: camada da película fotográfica sensível à luz, na qual é registrada a imagem do filme.
espelho do projetor ou da lanterna: espelho de alta qualidade ótica e capacidade de reflexão, no formato de uma semi-esfera ou parábola, utilizado para concentrar a luz de projeção no fotograma que será projetado na tela.

espelho frio: espelho dicróico que não reflete os comprimentos de onda das radiações infravermelhas.

estrela (ou tribase): dispositivo destinado a manter fixas as pernas do tripé da câmera.

F
fantasma: "borrão" vertical na imagem, seja em baixo ou em cima, resultante de uma má regulagem do obturador em relação ao movimento do filme.
fantasma: problema da projeção quando formam-se pequenos halos - "fantasmas" - ao redor das imagens projetadas na tela.

filme tridimensional: processo que transmite a ilusão de profundidade nos filmes. Também chamado de "3D".

filme virgem: película fotográfica não exposta nem processada.

flicker: termo em inglês para cintilamento, usado para designar variações na intensidade luminosa na tela de projeção. Costuma-se dizer que a imagem está "flicando".

flicker: variações perceptíveis na intensidade luminosa da imagem projetada na tela. O mesmo que "cintilamento".

foco: diz-se que uma imagem está em foco, quando ela se apresenta nítida, com as bordas bem definidas.
fora de quadro: defeito da projeção quando a imagem não está centrada na tela de projeção, ou quando a película não está posicionada corretamente no projetor e o espaço entre os fotogramas é projetado na tela. Nesses casos costuma-se dizer que a imagem está "fora de quadro".
formato de projeção: proporção entre a altura e a largura da imagem do filme na tela.
fotocélula: dispositivo do projetor, que transforma variações na luz em variações em impulsos elétricos.

fotometro: instrumento utilizado para medição da intensidade luminosa.

frame: termo em inglês para fotograma ou quadro.

freqüência: o número de ciclos de um fenômeno que se repete a intervalos periódicos como, por exemplo, as ondas sonoras.

fusão: a transição de uma cena para outra, na qual uma nova cena aparece gradualmente ao mesmo tempo que a primeira cena desaparece gradualmente.

fusível: dispositivo de segurança utilizado para interromper ou desconectar um fluxo elétrico que exceda a capacidade de uma instalação elétrica ou equipamento.

G
gelatina: folha de material transparente e colorido utilizado para modificar a luz dos refletores.

grifa: nome do componente mecânico no formato de um garfo que introduz seus dentes nas perfurações da película cinematográfica para puxá-la em um movimento intermitente de "avança-e-pára".

H
horímetro: dispositivo das lanternas a xenon utilizadas para monitorar o tempo de utilização das lâmpadas.

hot spot: termo em inglês que significa "mancha quente", utilizado para designar áreas de maior concentração de luz na tela de projeção.

I
ignitor: mecanismo utilizado para dar partida na lâmpada xenon.

infravermelho: parte do espectro eletromagnético com freqüência abaixo das freqüências luminosas visíveis pelo olho humano. As freqüências infravermelhas transmitem principalmente calor.

instabilidade horizontal: defeito da projeção quando a imagem projetada na tela movimenta-se de um lado para o outro.

instabilidade vertical: defeito da projeção quando a imagem projetada na tela movimenta-se para cima e para baixo.

intermediate: internegativo (ou interpositivo) utilizado como etapa intermediária na produção de cópias positivas (ou negativas).

internegativo: negativo produzido a partir de uma cópia positiva original utilizado para fazer outras cópias.

inversão de projetor: procedimento pelo qual o operador cinematográfico muda de um projetor para o outro durante a projeção, sem que o público perceba, para dar continuidade ao filme que está sendo exibido.

J
janela de projeção: placa de metal inserida no projetor, com a proporção correta do da imagem que deve ser projetada na tela.

L
laçada: folga na película cinematográfica durante o seu carregamento na câmera de filmagem ou no projetor que tem por finalidade possibilitar o movimento intermitente da película. O mesmo que loop.

de tungstênio: tipo de lâmpada geralmente utilizado como fonte de luz dos projetores de 16 mm portáteis.

lâmpada excitadora: lâmpada incandescente, alimentada por corrente contínua, que fornece a luz para leitura da trilha sonora ótica impressa na película.

lâmpada excitadora: lâmpada utilizada como fonte luminosa de um sistema de leitura do registro sonoro ótico.

Beto Magno: Diretor, Pesquisador e Produtor

PRODUÇÃO ORGANIZACIONAL DE CINEMA

Por Beto Magno


Na realização de uma produção cinematográfica de pequeno e médio porte pode-se adotar um esquema básico que compreende as etapas de pré-produção, filmagem, montagem e finalização. Algumas regras devem ser observadas para se alcançar um resultado satisfatório.
Primeiro, é necessário identificar o segmento para o qual se pretende dirigir o resultado de uma produção, que pode ser o mercado comercial ou alternativo de exibição. Depois, escolher uma idéia (enredo) que será transformada em filme. O realizador deve levar em consideração a possibilidade de aproveitamento dessa idéia, analisando os recursos físicos, materiais e financeiros que serão necessários para a sua execução.
A partir daí, deve-se começar a organizar o esquema de produção, que compreende as diversas etapas exemplificadas abaixo.
O PROJETO
Um projeto cinematográfico deve conter as seguintes informações:
ARGUMENTO EQUIPE TÉCNICA ELENCO ARTÍSTICO ORÇAMENTO PLANO DE FILMAGEM PLANO DE DESEMBOLSO PLANO DE MÍDIA PLANO DE COMERCIALIZAÇÃO
O DIRETOR DE CINEMA
Habitualmente o projeto cinematográfico é preparado pelo diretor de cinema em parceria com o produtor executivo. Ambos os profissionais cuidam de todas as fases de realização de um filme. São eles que escolhem a equipe técnica, o elenco e as locações (ou a necessidade de contratação de estúdio cinematográfico ou a construção de cidade cenográfica), além de decidirem com os demais membros da equipe detalhes sobre figurinos, cenografia, efeitos sonoros, equipamentos e técnicas a serem utilizadas, dentre outras. Também participam da elaboração do plano de filmagem.
O ARGUMENTO
O argumento cinematográfico é preparado a partir da idéia original escolhida para ser filmada. É uma espécie de sinopse onde constam os principais pontos da trama e os personagens envolvidos. Pode ser desenvolvido pelo autor da idéia, um argumentista ou roteirista contratado para essa tarefa.
O ROTEIRO
É o texto que desenvolve o argumento numa linguagem técnico-artística. A partir dele é possível ter conhecimento do ambiente onde se passa a trama, seja ficcional ou documental, para que sejam definidas as locações e a etapa do dia em que acontece a cena. O roteiro indica os personagens presentes na história, seus modos e costumes, para que seja possível preparar a cenografia e os figurinos. As seqüências e os diálogos devem estar contidos no roteiro para que os personagens tenham vida. Um roteiro recebe de três a cinco tratamentos até atingir a sua forma definitiva.
A PRODUÇÃO EXECUTIVA
Normalmente um projeto pode pertencer a um produtor executivo, profissional que possui uma empresa cinematográfica e que coordena a etapa de captação de recursos financeiros. Junto com o diretor de produção (seu preposto), faz a seleção da equipe técnica e do elenco, celebra contratos com fornecedores, locadoras, órgãos públicos etc.
O PLANO DE FILMAGEM
É a planificação e o gerenciamento da produção propriamente dita. Especifica as tarefas, os prazos, os custos e os responsáveis pela pré-produção, produção, filmagem, montagem, mixagem, finalização e a previsão da primeira cópia do filme. O plano de filmagem é montado pelo produtor executivo e o diretor.
DECUPAGEM
É a ordenação do roteiro dramático num story board detalhando plano a plano o filme proposto. É a forma visual do roteiro literário, da qual participam o diretor, o diretor de produção, o continuísta e o diretor de fotografia.
DETALHAMENTO TÉCNICO
É uma listagem de necessidades e providências feita pelos departamentos envolvidos na produção (iluminação, equipamentos, figurinos, transporte, cenários etc.). Todos os setores encaminham suas análises técnicas à direção de produção, que faz o planejamento global da produção.
O ORÇAMENTO
É estabelecido a partir do plano de produção e das informações disponíveis sobre equipe técnica, elenco, custos de cenografia e figurinos, locações e equipamentos, direitos autorais, encargos diversos etc. Somente com o orçamento é possível determinar o custo do filme e traçar uma estratégia de captação de recursos financeiros, observando-se um rigoroso cronograma de desembolso para a produção. Habitualmente é uma tarefa do produtor executivo e ou do diretor.
A PRÉ-PRODUÇÃO
Nessa etapa é concluída a contratação da equipe técnica, do elenco, da locação, a aquisição de equipamentos e materiais. Dependendo do porte da produção cinematográfica, essa tarefa é normalmente confiada ao diretor de produção e seus assistentes, podendo ser realizada pelo produtor executivo e ou o diretor.
É a fase de preparação da filmagem, quando são resolvidos os problemas identificados na análise técnica do roteiro e que é feita pelo diretor e seus assistentes.
A FILMAGEM
Depois de acertadas as etapas anteriores é hora de filmar. Todos os profissionais já foram contratados, os materiais e equipamentos já estão disponíveis, e o plano de trabalho feito pelo diretor de produção com a descrição de todas as cenas do filme está acessível para toda a equipe.
Paralelamente à filmagem é recomendável fazer uma telecinagem e uma pré-montagem das imagens digitalizadas, isto é, ordenar e sincar o material pela ordem da claquete. Essa é uma tarefa do assistente de montagem, que executa um primeiro corte largo do material e visiona o copião.
A PÓS-PRODUÇÃO
É uma tarefa desempenhada pelo produtor executivo, o diretor de produção, o diretor cinematográfico e o diretor de fotografia (em laboratório). Nessa etapa são feitos os últimos pagamentos de fornecedores, equipe técnica (aquela possível de ser dispensada) e elenco, bem como a devolução de equipamentos e a desocupação de locações utilizadas.
Paralelamente são executadas as tarefas auxiliares à montagem do filme, como seleção de trilhas sonoras e de ruídos adicionais, dublagens, trucagens e confecção de letreiros.
A MONTAGEM
É a fase de montagem das imagens brutas que são os negativos já revelados e telecinados. Nela estão necessariamente envolvidos o diretor e o montador, e facultativamente o continuísta. O diretor é quem responde pela ordem de montagem dos planos cinematográficos filmados e que darão seqüência à narrativa.
Também nessa fase é feita concomitantemente a montagem da banda sonora do filme que reúne os diálogos, os ruídos adicionais e a trilha musical.
Em meio a esse processo ocorre a mixagem, que é a reunião da imagem montada com a banda sonora e a banda internacional. A partir daí será possível gerar a primeira cópia do filme, após a marcação de luz e a montagem do negativo em laboratório. É um trabalho feito em estúdio especializado e acompanhado pelo diretor cinematográfico.
Concluído esse trabalho é gerada a "cópia 0", de onde sairão as orientações para a feitura das cópias de comercialização.
INFORMAÇÕES ADICIONAIS
· Deve-se começar as filmagens pelas cenas menos elaboradas e com gravações exteriores. Assim a equipe terá tempo para se ajustar e também se aproveitam as condições climáticas ou imposições de produção.
· Dentro do plano de trabalho de filmagem deve haver sempre a previsão para cenas a serem filmadas em dias de chuva, também chamadas de "opção chuva". São cenas que devem ser gravadas quando o seu plano de trabalho for prejudicado por um imprevisto meteorológico, ou outras que fogem ao controle da produção como acidente com artistas, greves nacionais etc.
· O plano de trabalho definitivo deve ser fechado em acordo com a disponibilidade do elenco contratado e da locação escolhida e outras imponderáveis.
· É importante que no final de um dia de filmagem o continuísta (através da sua folha de controle e do boletim de câmera) faça a contagem do tempo consumido pela filmagem de uma determinada cena, ou qualquer outra, e a quantidade de negativo utilizado. Assim, o diretor de produção saberá se o gasto com material e o tempo planejado para a conclusão do filme estão de acordo com o calculado, ou se cumprido a contento.
· Na produção de um filme é recomendável que os créditos financeiros recebidos na pré-produção sejam utilizados pelo diretor ou pelo produtor executivo na celebração do maior número possível de contratos, fazendo, inclusive, alguns pagamentos à vista e adiantamentos. Com isso, pode-se evitar aumentos inesperados de despesa e a interrupção das filmagens por falta de dinheiro. Deve-se, também, fazer o pagamento semanal dos técnicos e dar uma folga para a equipe a cada 6 dias de trabalho.
· Dentre as maneiras de se economizar dinheiro numa produção pode-se destacar: negociar cotas do filme com empresas de locação de equipamentos, equipe técnica e elenco; contratar com antecedência os estúdios de gravação e mixagem; comprar o negativo ótico na mesma ocasião que o negativo fotográfico.
· O assistente de direção deve elaborar a "ordem do dia" no final de cada expediente de trabalho. As informações necessárias serão repassadas a todos os técnicos até as 15 horas, antes do fim da jornada de trabalho, e afixadas no escritório da produção.
· O material de filmagem e os equipamentos em geral devem estar sempre acompanhados das notas de compra e locação, pois dessa maneira evitam-se problemas com a fiscalização. Todas devem ser mantidas em ordem pelo controller e o auxiliar de produção.
· Para facilitar o trabalho de organização da montagem, o assistente de montagem deve agrupar as imagens por ambiente e cenário, por dia e noite, por seqüências e dramaturgicamente.
· O relatório de filmagem a ser elaborado pelo assistente de produção deve conter as seguintes informações:
hora de saída da equipe da produtora, hora de chegada na locação, hora do início dos trabalhos na locação, hora de "pronto fotográfico", hora em que foi servido o almoço, hora em que recomeçou o trabalho de filmagem, atrasos ocorridos e sua motivação, hora de saída da locação, hora de chegada da equipe na produtora, gasto de negativo, envio do material exposto para laboratório, plano de transporte.
· Em média a organização e realização de uma produção cinematográfica consome os seguintes prazos:
2 meses para a montagem do projeto, 6 a 12 meses para a captação dos recursos financeiros, 2 meses para a preparação da produção, 4 a 6 semanas para a pré-produção, 8 a 10 semanas para as filmagens, 2 meses para montagem, 1 mês na preparação do lançamento.
· Em média um filme de longa duração possui 120 minutos, o que equivale a 440 planos cinematográficos.
· Normalmente em um dia de filmagem um diretor experiente realiza de 10 a 15 planos cinematográficos.
· Habitualmente um dia de trabalho se prolonga por cerca de 10 horas, sendo 2 horas na montagem dos equipamentos, 6 na filmagem e 2 na desmontagem.

Beto Magno Diretor, Pesquisador e produtor cultural

FUNÇÔES CINEMATOGRÁFICAS E SUAS ATRIBUIÇÕES

Por Beto Magno

Aderecista – Monta, transforma ou duplica, utilizando-se de técnicas artesanais, objetos cinematográficos e de indumentária, segundo orientação do cenógrafo e/ ou figurinista.

Animador – Executa a visualização do roteiro, modelos dos personagens e os “lay-outs “de cena, conforme orientação do Diretor de animação.

Arquivista de filmes – Organiza, controla e mantém sob sua guarda filmes e material publicitário em arquivos apropriados, avalia e relata o estado do material publicitário em arquivos apropriados, avalia e relata o estado do material, coordenando os trabalhos de revisão e reparos das cópias, quando possível ou necessário, com o auxílio do Revisor.

Assistente de animação – Transfere para o acetato, os “lay-outs” do Animador e do Assistente de Animador.

Assistente de animador – Completa o planejamento de animador intercalando os desenhos, faz pequenas animações.

Assistente de Câmera de Cinema – Assiste o Operador de Câmera e o Diretor de Fotografia, monta e desmonta a Câmera de cinema e seus acessórios, zela pelo bom estado deste equipamento, carrega e descarrega chassis, opera o foco, a “zoom” e o diafragma, redige os boletins de Câmera, prepara o material a ser encaminhado ao laboratório, realiza os testes de verificação de equipamento.

Assistente de Cenografia – Assiste o Cenógrafo em suas atribuições, coleta dados e realiza pesquisas relacionadas com o projeto cenográfico.

Assistente do Diretor Cinematográfico – Assiste o Diretor Cinematográfico em suas atividades, desde a preparação da produção até o término das filmagens, coordena as comunicações entre o Diretor de Produção Cinematográfico e o conjunto da equipe e do elenco, colabora na análise técnica do roteiro e do elenco, colabora na análise técnica do roteiro, do plano e da programação diária de filmagens ou ordem do dia , supervisiona o recebimento e distribuição dos elementos requisitados na ordem do dia, coordena e dinamiza as atividades, visando o cumprimento da programação estabelecida.

Assistente de Montador Cinematográfico – Encarrega-se da ordenação, classificação e sincronização do som e imagem do copião; executa os cortes indicados pelo Montador Cinematográfico, classifica e ordena as sobras de som e imagem, sincroniza as diversas pistas componentes da trilha sonora.

Assistente de Montador de Negativo – Assiste o Montador de Negativo em suas atribuições, prepara o material e equipamento a ser utilizado , acondiciona as sobras de material.
Assistente de Operador de Câmera de Animação – Assiste o operador de Câmera no processo de filmagens de animação.

Assistente de Produtor Cinematográfico – Assiste o Diretor de Produção Cinematográfica no desempenho de suas funções.

Assistente de Revisor e Limpador – Encarrega-se da revisão e limpeza de películas e fitas magnéticas.

Assistente de Trucador – Assiste o Trucador Cinematográfico em suas atribuições.

Ator - 2 – Cria , interpreta, e representa uma ação dramática baseando-se em textos, estímulos visuais, sonoros e outros, previamente concebidos por um autor ou criados através de improvisações individuais ou coletivas, utiliza-se de recursos vocais, corporais e emocionais, apreendidos ou intuídos , com o objetivo de transmitir ao espectador o conjunto de idéias e ações dramáticas propostas, pode utilizar-se de recursos técnicos para manipular bonecos, títeres e congêneres, pode interpretar sobre a imagem a voz de outrem, ensaia buscando aliar a sua criatividade à de diretor, atua em locais onde apresentam espetáculos de diversões públicas e / ou nos demais veículos de comunicação.

Auxiliar de Iluminador – Presta auxílio direto ao iluminador na operação dos sistemas de luz , transporte e montagem dos equipamentos. Cuida da limpeza e conservação dos equipamentos, materiais e instrumentos indispensáveis ao desempenho da função.

Auxiliar de Tráfego – Encarrega-se do encaminhamento dos filmes ao seus devidos setores.
Carpinteiro – Prepara material em madeira para a cenografia e outras destinaçoes.

Cenarista de Animação – Executa os cenários necessários para cada plano, cena e seqüência da animação conforme os “lay-outs” de cena e orientação do chefe de arte e do diretor de animação.

Cenógrafo – cria , projeta e supervisiona, de acordo com o espírito da obra a realização e montagem de todas as ambientaçoes e espaços necessários, dirige a preparação, montagem e remontagem das diversas unidades de trabalho. Nos filmes de longa metragem exerce ainda, as funções de Diretor de arte.

Cenotécnico – Planeja, coordena, , constrói, adapta e executa todos os detalhes de material, serviços e montagem de cenários , segundo maquetes, croquis e plantas fornecidas pelo cenógrafo.

Chefe de Arte de Animação – Coordena o trabalho do colorista e da copiadora eletrostática.

Colador – Marcador de sincronismo – Tira as pontas de sincronismo, ao mesmo tempo que faz a marca do ponto sincrônico do anel anterior, colocando, por meio de emendas o rolo de filme e de magnético em seu estado original.

Colorista de Animação – Colore os desenhos impressos no acetato sob a supervisão do Chefe de arte.

Conferente de Animação – Confere o trabalho dos coloristas, auxilia na filmagem, cuida do mapa de animação e da ordem dos desenhos e cenários, separando-os por planos e cenas.

Continuista de Cinema – Assiste o Diretor cinematográfico no que se refere ao encadeamento e continuidade da narrativa, cenários, figurinos, adereços, maquilagens, penteados, luz, ambiente, profundidade de campo, altura e distancia da Câmera, elabora boletins de continuidade e controla os de som e de Câmera, anota diálogos, ações, minutagens, dados de Câmera e horário das tomadas , prepara a claquete, informa à produção dos gastos diários de negativo e fita magnética.

Contra-Regra de Cena – Encarrega-se da guarda, conservação e colocação dos objetos de cena sob orientação do Cenógrafo.

Cortador – colocador de anéis – Corta os trechos marcados do copião ou cópia do trabalho seguindo a numeração feita pelo Marcador de anéis.

Diretor de Animação – Cria o planejamento de animação do filme, os “lay-outs” de cena, guias de animação, movimentos de Câmera, supervisiona o processo de produção, inclusive trilha sonora, é o responsável pela qualidade do filme.

Diretor de Arte – Cria, conceitua, planeja e supervisiona a produção de todos os componentes visuais de um filme ou espetáculo, traduz em formas concretas as relações dramáticas imaginadas pelo diretor cinematográfico e sugeridas pelo roteiro, define a construção a plástico-emocional de cada cena e de cada personagem dentro do contexto geral do espetáculo, verifica elege as locações as texturas, a cor e os efeitos visuais desejados, junto ao diretor cinematográfico e ao diretor de fotografia, define e conceitua o espetáculo estabelecendo as bases sob as quais trabalharão o Cenógrafo, o figurinista, o maquiador, o técnico em efeitos especiais cênicos, os gráficos e os demais profissionais necessários supervisionando-os durante as diversas fases de desenvolvimento do projeto.

Diretor de Arte de Animação – Responsável pelo visual gráfico dos filmes de animação, cria os personagens e os cenários do filme.

Diretor Cinematográfico – Cria a obra cinematográfica, supervisionando e dirigindo sua execução, utilizando recursos humanos, técnicos e artísticos, dirige artisticamente e tecnicamente a equipe e o elenco, analisa e interpreta o roteiro do filme, adequando-o à realização cinematográfica sob o ponto de vista técnico e artístico, escolhe a equipe técnica e o elenco, supervisiona a preparação da produção, escolhe locações, cenários , figurinos, cenografias e equipamentos, dirige ou supervisiona montagem, dublagem, confecção da trilha musical e sonora, e de todo o processamento do filme até a cópia final, acompanha a confecção do “trailer”, e do “avant-trailer”.

Diretor de Dublagem – Assiste ao filme e sugere a escalação do elenco para a dublagem do filme, esquematiza a produção, programa nos horários de trabalho, orienta a interpretação e o sincronismo do ator sobre sua imagem ou de outrem.

Diretor de Fotografia – Interpreta com imagens o roteiro cinematográfico, sob a orientação do diretor cinematográfico, mantém o padrão técnico e artístico da imagem, durante a preparação do filme, seleciona e aprova o equipamento adequado ao trabalho, indicando e/ ou aprovando os técnicos sob sua orientação, o tipo de negativo a ser a adotado, os testes de equipamento, examina e aprova locações interiores e exteriores, cenários e vestuários, nas filmagens orienta o operador de Câmera, assistente de Câmera, eletricista, maquinista e supervisiona o trabalho do continuista e do maquiador, sob o ponto de vista fotográfico, no acabamento do filme, quando conveniente ou necessário, acompanha a cópia final, em laboratório, durante a marcação de luz.

Diretor de Produção Cinematográfica – Mobiliza e administra recursos humanos, técnicos, artísticos e materiais para realização do filme, racionaliza e viabiliza a execução do projeto, mediante análise técnica do roteiro, em conjunto com Diretor cinematográfico ou seu assistente, administra financeiramente a produção.

Editor de Áudio – Encarrega-se da guarda, manutenção e adequada instalação do equipamento elétrico e de iluminação do filme, distribuindo de acordo com as indicações do diretor de fotografia, determina as especificações dos geradores a serem utilizados.

Figurante – Participa, individual ou coletivamente, como complementação de cena.

Figurinista – Cria e projeta trajes e complementos usados pelo elenco e figuração, executando o projeto gráfico dos mesmos, indica os materiais a serem utilizados, acompanha, supervisiona e detalha a execução do projeto.

Fotógrafo de Cena – Fotografa, durante as filmagens, cenas do filme para efeito de divulgação e confecção de material publicitário, indica o material adequado ao seu trabalho, trabalhando em conjunto com o diretor cinematográfico e o diretor de fotografia.

Guarda Roupeiro – Encarrega-se da conservação das peças de vestuário utilizadas no espetáculo ou produção, auxilia o elenco e a figuração a vestir as indumentárias, organiza a guarda e embalagem dos figurinos, em caso de viagem.

Letrista de Animação – Executa os letreiros ou créditos para produções cinematográficas.

Maquiador de Cinema – Encarrega-se da maquilagem ou caracterização do elenco e figuração de um filme, sob orientação do diretor cinematográfico, em comum acordo com o diretor de fotografia, indica os produtos a serem utilizados em seu trabalho.

Maquinista de Cinema – Encarrega-se do apoio direto ao operador de
Câmera e eletricista no que se refere ao material maquinária, instala e opera equipamentos destinados à fixação e/ ou movimentação de Câmera.

Marcador de Anéis – Executa a marcação dos anéis de dublagem, no copião ou cópia de trabalho.

Microfonista – Assiste o técnico de som, monta e desmonta o equipamento, zelando, pelo seu bom estado, posiciona os microfones, confecciona os boletins de som.

Montador de Filme Cinematográfico – Monta e estrutura o filme em sua forma definitiva, sob a orientação do diretor cinematográfico, a partir do material de imagem e som, usando seus recursos artísticos, técnicos e equipamentos específicos, zelando pelo bom estado e conservação das pistas sonoras, faz o plano de mixagem, participando da mesma, orienta o assistente de montagem.

Montador de Negativo – Monta negativos de filmes cinematográficos e do diretor de fotografia, enquadra as cenas do filme, indica os focos e os movimentos de “zoom” e Câmera.
Operador de Câmera de Animação – Filma os desenhos em equipamentos especial responsabilizando-se pela qualidade fotográfica do filme.

Operador de Gerador – Encarrega-se da manipulação e operação do gerador e corrente elétrica durante as filmagens.

Operador de Vídeo – Responsável pela qualidade de imagem no vídeo, operando as controles aumentando ou diminuindo o vídeo e pedestal, alinhando as câmeras, colocando os filtros adequados e corrigindo as aberturas de diafragma.

Operador de Telecine – Opera projetores de telecine,
comunicando-os de acordo com as necessidades de utilização, efetua ajustes operacionais nos projetores ( foco, filamento e enquadramento ).

Operador de Áudio – Opera a mesa de áudio durante gravações, respondendo por sua qualidade.
Pesquisador Cinematográfico – Coleta e organiza dados e materiais, desenvolve pesquisas no sentido de preservação da memória cinematográfica, sob qualquer forma, quer fílmica, bibliográfica, fotográfica e outras.

Pintor Artístico – Executa o trabalho de pintura dos cenários, prepara cartazes para utilização nos cenários, amplia quadros e telas, zela pela guarda e conservação dos materiais e instrumentos de trabalho, indispensáveis à execução de sua tarefa.

Projecionista de Laboratório – Opera o projetor cinematográfico especialmente preparado para os trabalhos de estúdio de som.

Revisor de Filme – Executa a revisão e reparo das cópias de filmes, verificando as condições materiais das mesmas, sob coordenação dos arquivistas de filmes.

Roteirista de Animação – Cria, a partir de uma idéia texto ou obra literária, sob forma de argumento ou roteiro de animação, narrativa com seqüências de ação, com ou do qual se realiza o filme de animação.

Roteirista Cinematográfico – Cria a partir de uma idéia, texto ou obra literária, sob a forma de argumento ou roteiro cinematográfico, narrativa com seqüências de ação, com ou sem diálogos, a partir da qual se realiza o filme.

Técnicos em Efeitos Especiais Cênicos – Realiza e /ou opera, durante as filmagens, mecanismos que permitem a realização de cenas exigidas pelo roteiro cinematográfico, cujo efeito dá ao espectador convencimento da ação pretendida pelo diretor cinematográfico.

Técnicos em Efeitos Especiais Óticos – Realiza e elabora trucagens, durante as filmagens, com acessórios complementares à Câmera, sem a utilização de laboratório de imagens ou “truca”.

Técnico de Finalização Cinematográfica – Acompanha as trucagens e faz o tráfego de laboratórios, supervisionando a qualidade do material trabalhado, na área do filme publicitário.
Técnico de Manutenção Eletrônica – Encarrega-se da conservação, manutenção e reparo do equipamento eletrônico de um estúdio de som.

Técnico de Manutenção de Equipamento Cinematográfico –e/ou eletrônica cinematográfica. Responsável pelo bom andamento das máquinas, com profundo conhecimento de mecânica
Técnico Operador de Caracteres – Opera as caracteres nos programas gravados, filmes, vinhetas, chamadas, conforme roteiro da produção.

Técnico Operador de Mixagem – Encarrega-se de reunir, em uma única pista, todas as pistas sonoras de um filme, após submete-las a vários processos de equalização sonora.

Técnico de Som – Realiza a interpretação e registro durante as filmagens, dos sons requeridos pelo diretor cinematográfico, indica o material adequado ao seu trabalho e à equipe que o assiste, examina e aprova, do ponto de vista sonoro, as locações internas e externas, cenários e figurinos, orienta o microfonista, acompanha o acabamento do filme, a transcrição do material gravado para magnético perfurado, a mixagem e a transcrição ótica.

Técnico de Tomada de Som – Realiza a gravação de vozes, ruídos e musicas, em estúdios de som, opera a mesa de gravação, executa equalizações sonoras.

Técnico em Transferencia Sonora – Realiza a transferencia de sons gravados em discos, fitas magnéticas ou negativo ótico, realiza testes de ajuste do equipamento e da qualidade do negativo ótico revelado.

Trucador Cinematográfico – Executa trucagens óticas, realizando efeitos de imagem desejados pelo diretor cinematográfico, opera o equipamento denominado “truca”.

Texto Retirado do Guia dos Profissionais de Cinema e Vídeo – Sindicine SP – 1997 - 95 páginas. I. Cinema/ Vídeo. II. SINDCINE. III. Título.

terça-feira, 20 de abril de 2010

O INSÓLITO ROMAN POLANSKY

Por André Setaro

Cineasta de rara inventividade no tratamento de seus temas, cuja crueldade vem muitas vezes na maneira pela qual estabelece a sua mise-en-scène, Roman Polansky pode ser considerado um dos mais insólitos realizadores cinematográficos do último quartel do século passado.


O Pianista (The Pianist), traz à cena o seu nome e atesta a maturidade de um autor quase que no outono da existência. Filme maduro e, por vezes, cruel, The Pianist tem uma correção que não admite sucumbir aos desvãos da pós-modernidade ou nos capítulos trânsfugas das inovações retrógradas – vide o dogmatismo dinamarquês e suas desabusadas manifestações ou as gramas innarriturianas.

Aqueles que criticaram Polansky quando este ganhou a Palma de Ouro em Cannes dada a O Pianista, considerando-o certinho demais, são os mesmos que solicitam do cinema não o espetáculo que envolve, aprofunda e traz reflexão, mas o supérfluo das câmeras planosequênciais, da prótese suja como manifestação de autoria e de rebeldia.


Realizador à primeira vista prolixo, Polansky, no entanto, ainda que tenha percorrido vários gêneros, é um autor, pois em cada um de seus filmes há uma gota de sangue de seu pretérito sofrido, maculado, esmagado, mas que ele, sempre confiante, soube ultrapassar os obstáculos e, otimista, apesar de tudo, seguindo, sempre, em frente.

É verdade que a segunda fase de sua obra não apresenta o mesmo impacto da primeira, aquela dos tempos de A faca na água, Repulsa ao sexo, Armadilha do destino, O bebê de Rosemary, Chinatown, O inquilino e, ainda, um extraordinário, e mal visto, MacBeth, que, sem medo de errar, poder-se-ia dizer que melhor que a versão que Orson Welles fez em 1948. Aliás, Polansky, numa entrevista a Jô Soares, quando aqui esteve para lançar Busca frenética, disse que os dois filmes que mais o influenciaram foram 8 e meio, de Federico Fellini, e MacBeth, de Orson Welles.
Mas o admirador confesso veio superar o mestre com a sua admirável, e, mais uma vez, pouco reconhecida, adaptação do clássico de William Shakespeare. Revisitando-se sua obra, a constatação de pontos comuns, de constantes temáticas, evidencia-se: a claustrofobia, o homem sempre acossado por circunstâncias indecifráveis, a insistente crueldade na visão ácida da condição humana, os desvãos do inconsciente, os entrechoques amorosos, a mulher sempre rainha, bela e sedutora, sedutora e bela, um certo ‘non sense’ na apreciação do ato de viver, a violência como mola propulsora para o estabelecimento do poder, a narratividade circular, em alguns filmes (A faca na água’, Chinatown...) onde ao invés de um desfecho se estabelece um impasse numa espécie de eterno retorno. E a perversidade e suas variantes. Polansky vê o homem com um olhar amargo, achando-lhe, a depender das circunstâncias, um potencial enorme de perversidade.


P.S: Uma vez, nos idos dos anos 70, mais precisamente em 1973, estando no Campo Grande com um amigo, li, num jornal, que Roman Polansky estava em Salvador e hospedado no Hotel da Bahia. Perto da hospedagem do autor de Rosemary’s Baby, decidimos, eu e este colega, adentrarmos no hotel à sua procura. Não precisamos ter trabalho na busca, pois, assim que entramos no saguão, avistamos Polansky na pergola da piscina tendo, a seu lado, Jack Nicholson. Aproximamo-nos com certo receio – estava na flor da juventude e, neste período, tudo é encantamento e novidade.

Tive a iniciativa de falar com Nicholson em francês – estudava, desculpem a modéstia, na Alliance Française – e trocamos algumas frases. Ele, muito simpático e receptivo, estava quase careca, porque criando o cabelo para o penteado do personagem que faria em Chinatown, deslumbrante filme noir, o primeiro a revisar o gênero quando ainda não se fazia isto. Polansky nos olhava calado. Acenava, apenas, com a cabeça. Um fotógrafo da Tribuna da Bahia, jornal onde escrevia uma coluna, estava a os acompanhar. Disse-me que estavam ali esperando que a namorada de Polansky descesse do apartamento.

O fotógrafo, que era Lázaro Torres, seria o cicerone para um passeio a Arembepe, que os dois manifestaram desejo de conhecer e que, na época, era um ‘must’, um ‘point’, uma aldeia hippie famosa no mundo inteiro e que tinha um insólito relógio solar. Quando Polansky, também falando em francês, começou a conversar sobre o filme que ia fazer, uma ‘louraça’ – fillet-mignon mesmo – apareceu na pergola. E se foram embora, deixando-nos a ver navios.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

lll BAHIA AFRO FILM FESTIVAL

Por Beto Magno

Será realizado de 13 a 23 de maio de 2010, na cidade de Cachoeira - Bahia, com o objetivo de fortalecer o desenvolvimento da formação, produção e difusão do audiovisual brasileiro, otimizando a vocação de Cachoeira, São Félix e demais municípios do Território de Identidade do Recôncavo como potencial pólo cinematográfico e do turismo étnico.
O lançamento da programação do III Bahia Afro Film Festival aconteceu dia 12 de abril de 2010 no Centro de Artes, Humanidades e Letras da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, com as presenças da Coordenação Executiva do Festival, Professor Danillo Barata, coordenador do Curso de Cinema e Audiovisual da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, Lázaro Farias, da Casa de Cinema da Bahia, Luiz Cachoeira, coordenador do Ponto de Cultura Rede Terreiro Cultural/CEPASC e do Ponto de Cultura Expressão Cidadania Quilombola/CECVI. Além da programação, disponível no site do evento, representantes do IRDEB-TVE e da Petrobrás falaram sobre a importância do evento e do apoio que darão institucionalmente ao III Bahia Afro Film, inclusive com a cobertura da TV Educativa da Bahia, através de divulgação e reportagens.
Marcos Peri, do IRDEB, falou sobre a importância histórica e cinematográfica de Cachoeira e felicitou a UFRB por sediar e integrar a comissão executiva do evento. Ratificou o apoio do IRDEB na divulgação do festival, adiantando que a TVE deve produzir uma series de VT's que será produzida em parceria com os cursos de Cinema e Jornalismo da UFRB, para circular na programação da TV. Ele estuda a possibilidade de realizar o minuto do festival, uma espécie de telejornal diário, de um minuto, revelando as atividades do festival.O assessor de imprensa da Petrobrás, Rosenberg Pinto, falou da preocupação especial que a Petrobrás tem com relação à produção cultural do Brasil, relembrou o percurso da Petrobrás no apoio às produções culturais e sobre a preocupação atual da empresa com a qualidade dos projetos patrocinados, visto que no passado a empresa apoiava muito cinema, mas não tinha uma preocupação com o conteúdo, e que o Afro Film Festival tem uma importância enorme para a Bahia e o Brasil e por conta disso a Petrobrás é parceira na realização do evento.


Luiz (Lula) Wandhausen Cineasta e Assessor da curadoria e Programação do BAFF

Sinto-me honrado em estar contribuindo com o BAFF. Participo desde o seu lançamento, quando naquela noite de Dezembro no Palácio da Aclamação, afirmava que o cinema baiano estava fazendo a sua história, com os seus holofotes iluminando as nossas raízes afro-brasileiras, abrindo as portas do audiovisual para refletir o talento de um povo.

Hoje, o BAFF consolida-se no melhor cenário possível para abrigá-lo, a histórica cidade de Cachoeira, em pleno recôncavo baiano, impregnado de riquezas culturais.


De grande valia a nossa parceria com a Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, através da sua Escola de Cinema, representado por Danillo Barata, abre as suas portas ao BAFF, e com isso compartilha do espírito do Festival, em um momento em que na Bahia, o cinema entra em ebulição, revelando grandes talentos.



Percebo uma união de pessoas muito talentosas e apaixonadas pelo cinema em torno de Lázaro Faria, o seu idealizador, o que me dá uma sensação de nítida confiança em realizar um excelente Festival.

domingo, 11 de abril de 2010

RADA ZAVERUTCHA REZEDÁ

Rada Rezedá: Atriz, Apresentadora, Diretora de TV e Diretora da CAP Escola de Tv e Cinema em Salvador

BATE-PAPO

Roberto Monteiro (TV Itapoan), Jefferson Beltrão (TV Bahia) e Rada Rezedá (Cap Escola de TV e Cinema) no projeto Bate-papo onde trocam idéias com alunos da Escola.

LANÇAMENTO DE LIVRO SOBRE CINEMA

Capas dos Livros

Por André Setaro


A simpática jornalista Aleksandra Pinheiro, que trabalha na divulgação de meu livro Escritos sobre Cinema - Trilogia de um tempo crítico, escreveu um texto sobre a publicação e sobre a minha trajetória. Não mereço tantas palavras gentis, mas, neste domingo de chuva e trovoadas, e a considerar a proximidade do lançamento, gostaria, aqui, de transcrever o que Aleksandra escreveu sob o título de Um homem chamado cinema. Abrindo as necessárias aspas, pois o que vai a seguir não é de minha pena. O que me resta é agradecer a Alé e parabenizá-la pelo seu trabalho.


Um homem chamado Cinema
"Com quase 40 anos de experiência em análise cinematográfica, André Setaro, crítico de cinema do Terra Magazine e professor da Facom (UFBA), reuniu textos, resenhas e suas melhores análises filmícas para lançar, em 3 volumes, a coleção Escritos sobre cinema - trilogia de um tempo crítico. O lançamento é da editora carioca Azougue, coedição da Edufba, produção da Multi Planejamento Cultural e patrocínio do Fundo de Cultura da Bahia, da Secretaria de Cultura do Estado (Secult).
A noite de autógrafos será na próxima terça-feira, 13/abril, às 20h, na Saladearte Cinema do Museu.

São partes integrantes deste projeto, a realização da Oficina Gratuita de Crítica Cinematográfica, nos dias 14 e 15/abr, e o Clube da Crítica - sessão de bate-papos entre Setaro e outros críticos brasileiros convidados ao evento-, nos dias 14, 15 e 16/abr, na Saladearte Cinema da UFBA.

André Setaro estreou na crítica cinematográfica há cerca de 40 anos, quando escreveu seu primeiro ensaio na imprensa, no antigo Jornal da Bahia, defendendo a importância de Jerry Lewis. Em vez de submeter-se aos padrões ideológicos da época, preferiu privilegiar a estética cinematográfica, tal e qual aquele personagem quixotesco de Nós que nos amávamos tanto, de Ettore Scola. É o próprio Setaro quem explica as reações na ocasião: “Se até hoje muitas pessoas não compreendem o valor de Jerry Lewis, acham que é um diretor de sessão da tarde, imagine naquele período ideologizado? Fui logo chamado de alienado”, relata, com o riso irônico de quem sempre amou muito mais o cinema do que as revoluções.

Seu amor pelo cinema, reiterado na militância da imprensa diária, especialmente no Jornal Tribuna da Bahia, ganha agora o sabor da permanência. A editora Azouge, em parceria com a Edufba, lança no próximo dia 13 de abril, Escritos sobre o cinema, trilogia de um tempo crítico.

A obra 'setariana' está dividida em 3 volumes: No Vol I encontramos os escritos sobre filmes, atores e diretores que marcaram a história do cinema e também depoimentos e artigos com inclinações autobiográficas. Além das impressões do crítico sobre Orson Welles, Kurosawa, Fellini, Godard, Bergman, entre outros ícones, fica-se também conhecendo a trajetória e paixão de Setaro pelo seu objeto de desejo e estudo.

O Vol II é dedicado integralmente ao cinema baiano que este ano completa 100 anos. Nas resenhas críticas, o autor fala sobre as obras e cineastas pioneiros na Bahia (a exemplo de Roberto Pires e Glauber Rocha) e também reflete sobre os homens e as circunstâncias que permitiram o surgimento e a efervescência do cinema na província. Setaro rende homenagens ao mestre Walter da Silveira e ao lendário Clube de Cinema da Bahia, assim como reconhece o valor de empreendedores, a exemplo de Guido Araújo e sua longeva Jornada de Cinema. Fala sobre o boom superoitista e recorda com ternura dos cinemas de rua de Salvador, como o Guarany, Excelsior, Liceu, Tamoio, Bahia, Pax, Aliança, Jandaia.

No Vol III Setaro trata especificamente da linguagem cinematográfica: Embrenha-se pelos caminhos teóricos, destaca as escolas, os autores, mas nunca perde de vista aquilo que o crítico Inácio Araújo, autor do prefácio da sua trilogia, definiu como “uma prazerosa proposta civilizatória”.


Este farto material estava praticamente destinado ao esquecimento, já que André Setaro, apesar do incentivo que sempre recebeu dos colegas e alunos, recusava a ideia de transformar tudo em livro: “Amigos sempre me falaram para escrever um livro, mas eu nunca quis”, relata, destacando que foi convencido da viabilidade do projeto pelo jornalista e escritor Carlos Ribeiro, que há mais de 15 anos insistia na publicação destes textos. Foi assim que, a partir de 2005, Carlos Ribeiro juntou-se a Carlos Pereira, André França, Marcos Pierry e alguns outros ex-alunos de Setaro e decidiram, de forma voluntária, realizar o trabalho de pesquisa e seleção da obra: “O enorme esforço dos professores que realizaram o trabalho foi, em si, um reconhecimento à contribuição de André Setaro ao cinema da Bahia e do Brasil. É um material valiosíssimo, que necessitava ser preservado.”, destaca Carlos Ribeiro, organizador dos três volumes. Esta memória e toda a paixão de Setaro será lançada às 20h, do dia 13/abr, na Saladearte do Cinema do Museu e em breve estará nas principais livrarias do país."

OFICINA DE CRÍTICA CINEMATOGRÁFICA:
Um dia após o lançamento da trilogia Escritos sobre cinema..., Setaro começa Oficina Gratuita de Crítica Cinematográfica nos dias 14 e 15/abril, das 9h às 11h30, na Saladearte do Cinema da UFBA, conforme programação descrita a seguir:

14/abril
1.) A crítica cinematográfica como instrumento de conhecimento da arte do filme. A narrativa e a fábula no discurso cinematográfico. O elo sintático e o elo semântico.
2.)Técnica, linguagem e estética. A transformação da crítica através dos tempos. A decadência dos suplementos culturais. A crítica do pretérito e a crítica contemporânea. Diferenciações entre ensaio, crítica, comentário e resenha.

15/abril
3.) A mise-en-scène. Tout est dans la mise-en-scène. Cineastas cerebrais e cineastas intuitivos. Os filmes-faróis e a necessidade de uma base referencial. A crítica de cinema como crítica de arte.
4.) A redução da crítica nos jornais expressos e o advento de blogs e sites. A crise da crítica e do cinema contemporâneo.
Inscrições gratuitas: Interessados devem solicitar ficha de inscrição através do e-mail:
oficinadecritica@gmail.com

CLUBE DA CRÍTICA:
Encerrando a tríade do projeto patrocinado pelo Fundo de Cultura do Estado da Bahia e produzido pela Multi Planejamento Cultural, acontece o Clube da Crítica: 3 dias de debates entre críticos convidados e André Setaro afim de discutirem assuntos ligados ao cinema atual. O bate-papo será das 16h às 17h30 na Saladearte Cinema da UFBA e a entrada é franca. Abaixo, as datas de realização, nomes dos críticos e temas que serão abordados:

· 14/abril: A decadência da crítica nos jornais e o seu advento em blogs e sites com Sérgio Alpendre (editor da revista eletrônica Paisà, crítico da Contracampo, colaborar esporádico da Folha de S Paulo, UOL Cinema, Cineclick, Revista MOVIE, Zingu e Cinequanon)
· 15/abril: Panorama atual da crítica cinematográfica com Francis Vogner (crítico da revista eletrônica Cinética, professor de cinema e colunista da revista Filme Cultura - que será relançada agora em abril/2010)
· 16/abril (sexta): A Inexistência da crítica na Bahia como reflexo de seu momento cultural com Marcos Pierry (Jornalista e professor de cinema) e André França (professor de cinema e artista visual)


Sobre André Setaro:
Graduado em Direito pela UFBA (1974), mestre em História e Teoria da Arte pela Escola de Belas Artes também na UFBA (1998), atualmente é professor adjunto do Departamento de Comunicação da UFBA. Tem experiência na área de Artes com Ênfase em Cinema, atuando principalmente nos seguintes temas: cinema baiano, discurso cinematográfico, análise fílmica e linguagem. Crítico cinematográfico do jornal Tribuna da Bahia, desde agosto de 1974, manteve uma coluna diária de crítica cinematográfica até 1994, quando passou a escrever apenas uma vez por semana. Colaborador eventual do Suplemento Cultural do jornal A Tarde, já publicou alguns ensaios e críticas de cinema neste periódico. Colunista cinematográfico da revista eletrônica Terra Magazine.


Serviço:
Lançamento dos 3 volumes de Escritos sobre cinema, a trilogia de um tempo crítico.
Caixa com 3 volumes: R$60,00. Venda avulsa de cada livro: R$23,00
Na Saladearte Cinema do Museu, dia 13/abril, às 20h.
Endereço: Av. Sete de Setembro, 2595, Corredor da Vitória - Museu Geológico
Tel: (71) 3338 2241

Oficina Gratuita de Crítica Cinematográfica
na Saladearte Cinema da UFBA, dias 14 e 15/abril, das 9h às 11h30.
Endereço: Av. Reitor Miguel Calmon, s/n, Vale do Canela. No pavilhão de aulas da UFBA do Canela (estacionamento gratuito).
Tel: (71) 3235 9879

Clube da Crítica
na Saladearte Cinema da UFBA, dias 13, 14 e 15/abril, das 16h às 17h30. Entrada franca.
(endereço igual ao anterior)




Ler mais:
http://setarosblog.blogspot.com/2010/04/escritos-sobre-cinema-e-uma-trilogia.html#ixzz0koM7SLYm